domingo, 16 de fevereiro de 2025

Vita Christi – Do denário diário – Ludolfo da Saxônia, O.Cart.

 


E como não basta abandonar tudo o que dissemos, se o homem se detém no caminho e não persevera, o Senhor acrescenta estas palavras, para que não caiamos na apatia, após um bom começo: “Os últimos serão os primeiros, e os primeiros os últimos”. De fato, muitos sobem e descem de um estado para outro, ora melhor, ora pior. Há fervorosos que se esfriam depois e corações frios que de repente se aquecem. Existem aqueles cujos começos são obras de perfeição por excelência, mas que se entregam a frieza contra o amor divino, preguiçosos em operar o bem e em fazer boas obras, escorregam até cair completamente no vício. Outros, ao contrário, que começaram tardiamente e com indiferença, fazem o bem com tanto fervor que superam, por seus méritos, aqueles que pareciam lhes preceder. Assim, aqueles que foram os primeiros ao começar, tornam-se os últimos ou até desaparecem, devido à falta de perseverança. Vejam Judas, o apóstolo, que se tornou apóstata, e o ladrão na cruz que se tornou confessor de Cristo. Vejam também os judeus e os gentios. Os judeus foram os primeiros chamados e serão os últimos convertidos. O contrário aconteceu com os gentios. Assim, os últimos pela humildade são os primeiros em glória e os primeiros pela soberba são, finalmente, os últimos na abjeção. Muitos que são desprezados neste mundo serão glorificados no outro, mas muitos outros que os homens glorificam serão finalmente condenados.

Jesus confirma esta verdade ao nos apresentar uma parábola, na qual nos ensina a fugir da ociosidade e a abraçar o trabalho. Esta parábola foi dirigida aos seus discípulos, porque é sobretudo aos prelados que compete trabalhar no campo do Mestre. Mas, para mostrar o que a parábola encerra, é preciso observar seis pontos:

I. O homem, pai de família, é Deus, que se fez homem aqui na terra, por causa de seu afeto por nós. Deus é chamado pai de família em sua qualidade de Criador. Sua Providência governa tudo no universo, assim como um pai de família governa tudo em sua casa. 

II. Os trabalhadores são os pregadores do Evangelho e todos aqueles que vivem de acordo com seus preceitos. Hoje em dia, um grande número de pregadores são trabalhadores apenas em palavras, porque não praticam.

III. O denário é a vida eterna prometida aos trabalhadores do Senhor.

IV. A vinha, no ponto de vista alegórico, é a Igreja, segundo São Gregório, mas, moralmente falando, a vinha é também a alma, segundo São Basílio, e a justiça absoluta, segundo São João Crisóstomo.

V. As horas marcam as diversas idades do mundo ou até mesmo dos homens.

VI. O procurador da vinha é o Cristo, como homem, que é também, em sua qualidade de Deus, o pai de família, juntamente com seu Pai.

Jesus lhes disse, portanto: “O reino dos céus”, ou seja, a Igreja, ou a assembleia dos justos que vivem de acordo com a justiça, “é semelhante a um homem, pai de família”, ou seja, ao Deus de toda a criação. (Nesta parábola, trata-se mais de pessoas do que de coisas, e estas palavras significam que o que a Igreja faz na terra é semelhante ao que faz um homem, pai de família). “Que saiu” para se manifestar e exercer sua bondade afora. Como diz São Gregório, quando um homem não é conhecido, é como se não existisse, sua existência começa no momento em que se manifesta. Ao romper da manhã, ou seja, na primeira era do mundo, começando com Adão e terminando com Noé; saiu para contratar os operários, ou seja, os homens justos, seus servos, capazes de revelar seu nome a outros; para sua vinha, ou seja, para a Igreja militante, cujos ramos são os justos, desde o primeiro, que se chamava Abel, até o último dos eleitos. Segundo São João Crisóstomo, contratar os operários para sua vinha é recrutar os bons para as obras de justiça, e então a vinha é a justiça, da qual todas as virtudes são os ramos. Ou, segundo São Basílio, pela vinha entende-se a alma ou a consciência, da qual devemos nos ocupar cortando os ramos luxuriantes da concupiscência, rejeitando as pedras da soberba e arrancando os espinhos da avareza. Pela vinha, pode-se entender ainda a penitência, por meio da qual são contratados, em várias horas, os trabalhadores trazidos de volta a Deus: uns na época de sua infância, outros na juventude, e outros ao final da vida. Portanto, o pai de família ou o Senhor sai e se manifesta a nós como mestre, quando chama, por meio de incessantes convites, os trabalhadores, não em palavras, pois as ações são ainda mais preferíveis com o objetivo de multiplicar as boas obras a serem realizadas em sua vinha. Adão foi primeiramente colocado no paraíso e dele foi banido por sua culpa e por desobediência. Os judeus, o povo privilegiado de Deus, foram rejeitados. Hoje estamos, diante de Deus, na posição especial dos judeus, e seremos rejeitados como eles se não vigiarmos nossas ações.

         Tendo acordado com os operários de lhes dar um denário diário, ele os enviou à sua vinha. Este acordo não é outra coisa senão a promessa de vida eterna. Chama-se denário diário, pois o pacto da vida eterna é prometido como recompensa pelo trabalho, sendo que essa vida eterna é chamada de denário. Primeiramente, pela razão do nome, pois o denário é assim chamado por causa dos dez (decem), uma vez que, antigamente, valia dez moedas comuns. Nesse caso, significa o preço pelo uso e observância do Decálogo; e por isso, essa vida é chamada de denário, porque é dada pela observância do Decálogo. Em segundo lugar, pela razão da figura, porque o denário tem a figura esférica e redonda, onde não se pode encontrar princípio nem fim; com isso se significa a eternidade da vida e a plena posse da eternidade. Em terceiro lugar, pela razão da imagem, pois no denário está impressa a imagem do rei; com isso, se aponta a conformidade plena da alma com Deus, já que a imagem de Deus é gravada nos bem-aventurados pela assimilação a Deus e pela transformação nele. Em quarto lugar, pela razão da inscrição, que indica o pleno conhecimento e a compreensão da verdade, o qual será dado aos bem-aventurados. E este denário é chamado de diário, tanto porque toda a vida do homem, assim como toda a vida presente, é considerada como um único dia, no qual nunca se deve desistir de uma boa ação; quanto porque, só ao que trabalha no dia da graça, e não à noite (a estes será dada a recompensa da culpa) serão compensados no dia da glória. Ele os enviou à sua vinha, assim como enviou, na antiga Lei, profetas para chamar os homens à fé em um Redentor, e os convidou por meio deles a viver segundo a justiça e as práticas da virtude. E saindo à terceira hora, ou seja, mostrando-se uma segunda vez (época de Noé a Abraão), viu com tristeza (era pelos olhos de sua misericórdia) outros que estavam sem fazer nada na praça pública, e convidando-os a ir à sua vinha, prometeu-lhes uma recompensa. Segundo São João Crisóstomo, o fórum ou a praça pública é o mundo com suas calúnias, suas injustiças, suas disputas, suas dificuldades de toda sorte, o mundo onde tudo está à venda. Nesse fórum do mundo, as almas estão à venda. Ali estão dois mercadores, Deus e o demônio. Há aqueles que são atingidos pela cegueira ao ponto de vender sua alma por um preço baixo, ou seja, por um prazer fútil e passageiro: são os luxuriosos e os homens escravizados pelo ventre; há aqueles que a vendem por honras e glória: são os soberbos e os vaidosos; alguns a vendem por dinheiro e por fortuna em geral, como os avarentos e os ladrões. Façamos o contrário e vendamos nossas almas a Cristo, que nos resgatou pelo preço de seu precioso sangue. A ociosidade é a omissão de um trabalho devido.

Segundo São João Crisóstomo, os pecadores são mortos, não ociosos aos olhos de Deus. Aquele que é escravo do demônio está morto. Aquele que não faz as obras de Deus é um ocioso. Aquele que rouba o bem do outro está morto. Aquele que não partilha o seu bem é um ocioso. Dedicaste às obras da misericórdia, se partilhaste seus bens com o pobre. Jejuaste verdadeiramente, se o que deverias comer durante o dia, deste ao indigente; se jejuas e não partilhas a ninguém, és ocioso, nada fizeste.

Ele saiu então à sexta hora (época de Abraão a Moisés) e à nona (época de Moisés até Cristo), para se manifestar cada vez mais, e fez o mesmo, ou seja, convidou e prometeu uma recompensa; e para a décima primeira hora, ou seja, nos últimos tempos, a saber, os tempos de Cristo até a consumação dos séculos. Ele saiu especialmente e se manifestou mais claramente como Cristo, e encontrou outros, parados, em pé, não caminhando, não se humilhando; eram os gentios; e lhes disse: “Por que permaneceis aqui, neste lugar tão perigoso, o dia inteiro, quando tendes um tempo favorável e uma grande recompensa assegurada?”. Eles lhe responderam: “Porque ninguém nos contratou”; ou seja, porque nenhum profeta, nenhum doutor, veio nos instruir. Ele lhes disse: “E vós também, ide à minha vinha”; ou seja, crede, e depois traduza a fé do vosso coração, realize essa crença em vossas obras. Segundo São João Crisóstomo, aquele que não trabalha nesta vida, não se senta ao banquete celestial na outra. Esta palavra aplica-se geralmente às diversas idades do mundo; mas moralmente, pode aplicar-se aos eleitos e às diversas épocas da vocação. A manhã e a primeira hora representam a infância. A terceira hora marca a adolescência; a sexta hora, a juventude e a idade viril. A nona hora é a velhice; e pela décima primeira hora entende-se a decrepitude.

         O homem que negligencia trabalhar para sua salvação é chamado de ocioso durante todo o dia ou por toda a sua vida. Deus chama os homens à graça e à glória em todo tempo e em qualquer idade, porque sempre há aqueles que se corrigem e que Deus recompensa. Um arrependimento sincero nunca chega tarde demais. Tomemos aqui as palavras de um homem que fala consigo mesmo: “Chegaste à tua nona hora”, diz ele, “por que permaneces ocioso? Estás prestes a alcançar a décima primeira hora de tua vida; por que parar? E qual outra hora esperas ainda? Trabalha para tua salvação; aquele que deseja servir a Deus será admitido graciosamente, mesmo na última hora”. Santo Isidoro marca para o homem seis idades nesta vida. A sétima idade do homem é o dia de descanso das almas até o juízo. Então virá a ressurreição dos corpos, que iniciará uma oitava idade para o homem, quando a noite chegar, no fim do mundo ou da vida. Segundo São João Crisóstomo, deve-se considerar que Deus não paga desde a manhã, mas somente à noite, pois Ele recompensa apenas o trabalhador fiel que persevera. O Senhor da vinha diz ao seu procurador, ou seja, Deus Pai diz ao Cristo, porque o Pai entregou a Ele todo o seu poder: “Chamai os trabalhadores, e não os ociosos, diante de vosso tribunal, e pagai-lhes, começando pelos últimos até os primeiros”. O denário é dado aos últimos primeiro porque, como diz São João Crisóstomo, era justo pagar a todos. Mas pagar os últimos primeiro não ofendia a justiça e estava em conformidade com a misericórdia e bondade de Deus. Ele dá primeiro o salário aos últimos trabalhadores, depois aos primeiros. A misericórdia divina não olha para a ordem ou a posição; Deus, que em seus dons considera mais as causas e a intenção do que o trabalho realizado e o tempo empregado, suplanta com sua graça o que falta. Diz São Bernardo:

“Exagere seus méritos o quanto quiser, vanglorie-se de suas fadigas, a misericórdia de Deus é melhor do que tudo o que podemos lhe oferecer por nós mesmos. É ela que me permite reparar minhas ações defeituosas”.

Assim, segundo a ordem do pai de família, os últimos receberam, assim como os primeiros, um denário cada um, ou seja, tudo o que estava acordado, a saber, a vida eterna. Segundo Santo Agostinho, esse único denário dado a todos é uma única vida eterna, recompensa futura de cada um, igual para todos, de igual duração para todos; porque lá, a duração não é mais relativa, mas absoluta. No entanto, lá existirá uma única diferença: a diversidade e o brilho dos méritos entre os eleitos. Esse único denário, portanto, é múltiplo em si mesmo, devido à diferença dos méritos dos sujeitos que o recebem. No céu, há um número infinito de méritos diferentes. E os primeiros, ao receberem o denário, murmurariam contra o pai de família, dizendo: “Os últimos trabalharam uma hora, e tu os tratas como nós, que suportamos o peso do dia e o calor”. O peso do dia significa a justiça que leva em conta as horas para aqueles que estão comprometidos. O calor do dia são as tentações que nos são oferecidas pelas diversas circunstâncias do dia, devido à malícia de nosso inimigo e às nossas próprias fraquezas, especialmente as fraquezas e paixões carnais. Suportamos o peso do dia porque observamos a justiça, cumprindo nosso dever a cada instante, sem descanso. Pode-se também dizer que esses murmúrios eram murmúrios de admiração, pela infinita bondade de Deus, quando Ele recompensa os seus santos. Assim, há dois murmúrios: um murmúrio de queixa e um murmúrio de admiração. Da parte dos trabalhadores, é um murmúrio de queixa, que gera de nossa parte um murmúrio de aprovação. É assim também com o murmúrio dos santos ou dos eleitos. Sem se queixar da glória reservada a outros novos chegados, quando eles mesmos foram mais tempo empenhados no serviço de Deus, eles se surpreendem com Sua bondade inesgotável e só murmuram da maneira correta, a respeito de sua liberalidade e misericórdia, que fazem com que, sem esforço e de uma só vez, os últimos sejam coroados como eles na glória.

Foi assim que Pedro pôde murmurar ao ver o bom ladrão ser considerado digno de chegar antes dele na glória. Observemos que o salário dado é justo aos olhos dos primeiros que chegaram, pois o preço acordado é dado a todos. Deus não age injustamente com os primeiros; ele age misericordiosamente com os últimos. Aos primeiros, sua justiça, aos segundos, sua bondade. Por esses dois atributos, Deus preenche a diferença nas ações uns e outros. E recebem um prêmio igual; para que seja mostrado, segundo o Apóstolo, que não somos salvos pelas obras. O Senhor não considera a quantidade nem a qualidade, mas a intenção e a caridade de nossas obras. Uma penitência tardia, se for verdadeira, não faz perder nem diminui a graça de Deus.

Embora os últimos sejam tão recompensados quanto os primeiros, não se deve adiar insanamente a conversão, nem esperar pela última hora ou pelo último momento, por receio de que, sobrecarregados com nossos pecados, acabemos formando um coração impenitente e incapaz de receber o perdão de nossas faltas; ou que, no caso de um arrependimento sincero, não tenhamos tempo de cumprir a penitência exigida pela justiça. Se, no entanto, adiaste até a última hora o momento de viver corretamente, não haja preguiça, então redobre os esforços. Cícero diz:

“Para os idosos, os trabalhos que diminuem os esforços do corpo parecem ser necessários, enquanto os exercícios que aumentam as forças da alma são igualmente essenciais; e, portanto, nada é mais a ser evitado pela velhice do que ceder à fraqueza e à preguiça”.

Moralmente falando, esses murmúrios dos primeiros operários podem servir de instrução para certos monges que murmuram quando preferem aos recém-chegados ou aos mais jovens do que eles, para os cargos ou honrarias. Este exemplo mostra aos religiosos que não devem estabelecer em suas mentes comparações entre eles e os homens do mundo, menos assíduos do que um religioso no serviço de Deus. Frequentemente, como vemos aqui no Evangelho, simples leigos igualam em méritos os religiosos regulares, e até os superam em algumas ocasiões.

E Jesus respondeu a um deles: “Amigo, eu não te faço injustiça alguma, não foste tu que combinaste comigo um denário?”, o que o pai de família responde a um dos operários, ele o diz a todos. Todos estavam na mesma situação e tinham as mesmas razões para murmurar. Não há injustiça em uma liberalidade gratuita feita a outro. Não foi combinado um denário para cada um dos operários? Toma o que é teu; estou pronto para te recompensar segundo o teu merecimento. Vai, e entra na alegria e nas intenções do teu mestre. Depois de te fazer justiça, não me é permitido fazer o que quero? Como se Ele dissesse: A vontade de Deus é sempre justa. Deus nunca quer senão o que é lícito. Assim, quando Deus quer algo, essa coisa é lícita a priori. Mas, ao contrário, a posteriori, quando algo é lícito, podemos querer isso. E, para provar que o que Deus quer não é apenas lícito, mas também cheio de bondade, Jesus acrescenta: “O teu olho é mau porque eu sou bom?”, diz São Gregório:

“É uma loucura se opor à bondade de Deus. Deveríamos nos queixar se Deus não desse o que deve, e não quando Ele dá o que não deve”.

E diz São João Crisóstomo:

“Não se pode se queixar justamente de quem excede nossos desejos ou nossa esperança com seus favores”.

Concluamos e resumamos a parábola inteira em poucas palavras: assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros, os últimos. Frequentemente, de fato, aqueles que chegam tardiamente à penitência são mais recompensados do que aqueles que chegam desde a primeira hora, sendo a morte prematura a causa dessa graça. Muitas vezes, também, os que chegam tardiamente à penitência trazem uma fervorosa devoção maior do que os primeiros. Aqui, é como o viajante tardio, que apressa o passo para recuperar o tempo perdido. Finalmente, estas últimas palavras podem ser interpretadas da seguinte maneira: os últimos aos próprios olhos são os primeiros aos olhos de Deus; os últimos no julgamento dos homens são frequentemente os primeiros no julgamento de Deus. Deus não observa a casca do homem, Ele penetra o fundo dos corações. Se todos, nesta parábola, receberam um denário, não devemos concluir que todos aqueles chamados à fé serão salvos; daí, estas palavras terríveis: pois muitos dos trabalhadores da primeira, da terceira, da sexta, da nona e da última hora são chamados, mas poucos são escolhidos e recebidos no céu. Muitos fazem parte da Igreja militante que nunca farão parte da Igreja triunfante. Assim, são poucos os que serão salvos, em relação ao grande número daqueles que são chamados ao longo do dia. Segundo São Gregório, muitos são os que creem, muitos preenchem os recintos dos templos do Senhor; poucos, porém, alcançarão seu reino celestial.

Assim, os filhos de Israel, dos quais a maioria foi chamada a entrar na terra prometida, não entraram nela senão em pequeno número. Gideão também chamou muitos soldados para a batalha, mas escolhe apenas um pequeno número para ir com ele. Porque é larga e espaçosa a porta que conduz à perdição, muitos entram por ela; mas a porta estreita, que conduz à vida, poucos entram por ela. O homem diz: “Repousem para trabalhar melhor”; Deus diz: “Trabalhem para descansar melhor”. É a custa de um trabalho contínuo e incessante que se adquire a recompensa futura. O homem que se tiver ocupado laboriosamente das virtudes ouvirá estas palavras consoladoras, saídas da boca de Deus: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos restituirei”. A recompensa de Deus será tanto maior quanto mais intenso for o trabalho. O Apóstolo atesta: cada um receberá sua recompensa conforme o seu trabalho. Todos os chamados sabem que o são, mas ninguém sabe se é escolhido; razão a mais para redobrar nossa solicitude em operar nossa salvação. Diz São Gregório:

“Há duas coisas às quais devemos dar a maior atenção: primeiro, que ninguém presuma demasiado de si mesmo, pois, embora bem certo de ser chamado à fé, todo homem ignora se é digno da felicidade eterna. A segunda coisa a observar é que ninguém, ao ver seu próximo no abismo do vício, ouse condená-lo, porque ninguém sondou ainda os tesouros da misericórdia divina. Sabemos bem o que o pecador é hoje, mas ignoramos o que será amanhã. Muitas vezes, aquele que vemos chegar depois de nós, nos precede pela superioridade de uma boa obra, e amanhã mal seguimos aquele que hoje parecemos preceder”.

Diz São João Crisóstomo:

“Esta parábola destina-se a excitar tanto a confiança daqueles que chegam tarde à penitência quanto seu fervor, pois ela nos mostra que nesta vida não há penitência tão tardia que, pela fervorosa devoção, não possa preceder em mérito qualquer outra que tenha chegado antes no tempo, mas que, sem se renovar, não avança com a mesma intensidade”.

Em qualquer idade e a qualquer hora, o pecador é bem recebido por Deus. Em qualquer momento que o pecador se converta e se arrependa, diz Ezequiel, ele viverá, será salvo. Enquanto isso, devemos viver cada dia como se fosse o último de nossas vidas. Diz Sêneca:

“Devemos ordenar cada dia de nossa vida como se fosse o último, como se nesse dia fôssemos morrer e travar nossa última batalha. Aquele é muito feliz e verdadeiramente senhor de si, que vê o amanhã chegar sem medo nem impaciência. Entre outros vícios, a loucura tem esta característica: ela sempre começa a viver. O que pode ser mais vergonhoso do que a conduta de um idoso que começa a viver? O que há de mais belo, ao contrário, do que dizer adeus à vida antes que a morte venha nos encontrar, e então esperar, livre de preocupações, pelo fim dos nossos dias?”.

Nada serve mais para vencer nossa tendência ao mal do que a reflexão sobre a morte. Isso faz com que o Sábio diga: “Em todas as suas ações, lembre-se da sua última hora, e você nunca pecará”. Diz São Gregório:

“Nada serve para dominar as diversas paixões como a constante lembrança da morte”.

Diz São Bernardo:

“É um excelente remédio para voltar ao Senhor ter a morte diante dos olhos”.

Importa muito, para nos tirarmos da preguiça e da indolência, olhar para Jesus e para aqueles que regulam sua vida segundo este divino modelo. Este é o meio de sair do nosso relaxamento e apatia, para abraçar a fervorosa dedicação e avançar na vida espiritual.

 

ORAÇÃO

Senhor Jesus Cristo, sumo pai de família, vós me chamastes, no começo da manhã, para a Vossa vinha, quando, misericordiosamente, me chamastes da minha juventude para a fé e o Vosso serviço, e fizestes um pacto comigo para trabalhar pelo denário da vida eterna; mas eu, miserável, permaneci o dia todo ocioso em minha vida, e, vivendo de forma negligente, não cumpri a minha obrigação. Senhor, porque sois bom e misericordioso, fazei com que eu, ao menos na undécima hora, me arrependa e produza frutos dignos de penitência, para que, diante de Vós, eu mereça encontrar alguma recompensa. Amém.